O município de Independência não tem 92 anos de
emancipação. Essa narrativa, repetido ano após ano, não apenas distorce os
fatos como também apaga parte significativa da trajetória histórica de uma
terra marcada por lutas, tradições e raízes profundas. Na verdade,
Independência possui 168 anos de fundação, e insistir em comemorar apenas 92 é
reduzir mais da metade de sua história a um silêncio injustificável.
É fundamental destacar que a verdadeira data de
fundação de Independência é 25 de julho de 1857, pelo Decreto Lei nº
436, quando oficialmente se estabeleceu o município. Ignorar essa data — e
substituí-la indevidamente por 4 de dezembro — é um equívoco que compromete a
seriedade com que tratamos nossa própria memória. Ao deslocar a origem de
Independência para quase um século depois, cria-se uma versão simplificada e
empobrecida de um passado que deveria ser celebrado em sua totalidade.
Celebrar o dia 4 de dezembro como marco de
emancipação é um erro histórico que se perpetua, muitas vezes por
desconhecimento, outras por falta de atenção aos registros oficiais e à memória
coletiva. O problema vai além da data, é a mensagem que ela transmite. Ao
reconhecer apenas 92 anos, abandona-se um passado que moldou o povo, a cultura
e a identidade local. São décadas — para não dizer séculos — desperdiçadas em
comemorações desatentas à verdadeira origem do município.
A história é um patrimônio tão valioso quanto
qualquer monumento físico, e ignorá-la significa romper o elo entre o passado e
o presente. Quando um município escolhe celebrar uma data errada, ele não só se
engana, mas também compromete o aprendizado das novas gerações, que deixam de
conhecer a verdadeira cronologia de seu lugar de pertencimento.
É preciso coragem e responsabilidade para retomar a narrativa correta. Reavaliar documentos, ajustar o calendário comemorativo e educar a população sobre a verdadeira história de Independência não é apenas um gesto de reparação, mas uma demonstração de respeito às gerações que construíram esse município muito antes de 1933.
Reconhecer que Independência tem 168 anos, e não
92, é devolver ao povo sua própria história — uma história que merece ser
lembrada, celebrada e preservada com fidelidade.
Prof. Ricardo Assis
