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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Saci está solto em Independência - Prof. Ricardo Assis



O Dia do Saci e o esquecimento das nossas raízes



 

Em 2010, o município de Independência deu um passo simbólico e corajoso ao instituir o Dia do Saci em 31 de outubro. Mais do que uma simples data comemorativa, essa lei é um convite à resistência cultural — uma tentativa de equilibrar o brilho importado do Halloween com a riqueza das nossas próprias lendas. Porém, passados mais de dez anos, é triste perceber que muitas escolas, públicas e privadas, ainda ignoram o verdadeiro sentido dessa data.

O Saci, travesso, sábio e profundamente brasileiro, deveria saltar pelos corredores escolares, pelas bibliotecas e pelas praças, espalhando curiosidade e orgulho pelo folclore nacional. Mas, em vez disso, o que se vê é a repetição acrítica de fantasias estrangeiras, enquanto o nosso imaginário popular se apaga pouco a pouco. O Dia do Saci não é contra o Halloween — é a favor de nós mesmos. É um chamado para lembrar que nossa cultura é viva, criativa e cheia de personagens que contam quem somos.

Lei Municipal nº 285, de 20 de abril de 2010, sancionada em Independência (CE)

Cabe às escolas, aos educadores e à sociedade reacender essa chama. Celebrar o Saci é reafirmar nossa identidade, valorizar o Brasil que existe nas histórias de fogueira, nos causos de avó e nas travessuras da imaginação. Ignorar essa lei é, de certa forma, permitir que o pó da indiferença cubra o brilho das nossas próprias raízes.

O Saci está solto em Independência — e que continue assim, lembrando a todos que preservar o folclore é preservar a alma do nosso povo e nossa cultural.

 Prof. Ricardo Assis

domingo, 19 de outubro de 2025

Rotas Turísticas, Religiosas e Culturais em Independência, um Caminho para o Futuro - Prof. Ricardo Assis

Vaqueiros, santos populares, cangaceiros e escravos fazem parte de nossa história.

 


O município de Independência, um dos mais antigos do Ceará, guarda em cada rua, prédio e fazenda, capítulos vivos da história do município. Suas tradições, memórias e crenças formam um patrimônio imensurável que, se bem explorado, pode transformar-se em um verdadeiro motor de desenvolvimento e crescimento para o município. A cidade tem todos os elementos para criar rotas turísticas, religiosas e culturais capazes de atrair visitantes, gerar empregos e fortalecer o sentimento de pertencimento de seu povo.

Independência é um museu a céu aberto. Os prédios centenários no centro da cidade contam histórias de fé e resistência. Na zona rural, as artes rupestres revelam o legado milenar dos primeiros habitantes. Nas antigas fazendas, ainda ecoam as lembranças dos tempos do algodão e da criação de gado, que fizeram do município um polo de riqueza nas décadas passadas. As narrativas sobre cangaceiros, escravos e os vaqueiros poderiam compor rotas temáticas que misturam história, cultura e emoção, resgatando a identidade e o orgulho local.

Fazenda centenária Pitombeira, parte da história do cangaço em Independência.

Na zona rural, há um vasto campo para rotas religiosas e culturais. Lugares de fé, como capelas antigas, santuários e devoções a santos populares, poderiam ser conectados em circuitos que valorizem a religiosidade do povo independente. Essa espiritualidade, tão presente na vida cotidiana, é um traço marcante da cidade e merece ser celebrada, não esquecida.

Enquanto muitos municípios do Ceará já exploram o turismo cultural e religioso como fonte de progresso, Independência ainda guarda suas riquezas no silêncio das memórias. É hora de olhar para o potencial que temos e transformá-lo em oportunidade — com planejamento, incentivo e amor pela nossa terra.

Explorar o turismo histórico, cultural e religioso não é apenas uma forma de gerar renda. É um ato de preservação da identidade, de fortalecimento da comunidade e de reconhecimento do valor do nosso passado. Independência tem tudo para se tornar um roteiro obrigatório do sertão cearense, bastando que acredite em si mesma e dê o primeiro passo rumo a esse futuro promissor.

 Prof. Ricardo Assis



domingo, 5 de outubro de 2025

O mito da manga com leite no Brasil Colonial

Escravo comendo manga com leite no Brasil colonial - imagem criada por IA

 

Entre os muitos causos e crendices que marcaram a vida no Brasil Colonial, poucos se espalharam tanto quanto a ideia de que manga com leite fazia mal à saúde. Até hoje, muita gente já ouviu de pais ou avós a recomendação de não misturar os dois alimentos. Mas de onde surgiu essa crença que atravessou séculos?

Os registros históricos apontam que o mito nasceu ainda nos tempos da escravidão e da formação das grandes fazendas coloniais. O leite era considerado um alimento de grande valor, destinado principalmente aos senhores, colonos e às elites locais. Já a manga, fruto tropical abundante e acessível, era consumida em larga escala pela população pobre e pelos escravizados.

Para evitar que os escravizados consumissem o leite, os senhores criaram a ideia de que misturar leite com manga poderia ser venenoso. Assim, mantinha-se o controle sobre o acesso ao leite, restringindo-o como um privilégio de classe. A proibição funcionava como uma barreira simbólica, sustentada pelo medo e pela ignorância científica da época.

Com o tempo, essa crença foi se tornando parte da cultura popular, passando de geração em geração. Mesmo com o avanço do conhecimento científico e a comprovação de que a mistura não causa nenhum mal — ao contrário, pode até ser nutritiva — a ideia permaneceu viva no imaginário coletivo.

No fundo, a história da manga com leite é um reflexo da desigualdade social e racial do Brasil Colonial, onde até mesmo os hábitos alimentares eram moldados pelo poder e pela hierarquia. O mito não é apenas uma curiosidade folclórica, mas também um símbolo das estratégias de controle e exclusão social utilizadas naquele período.

Hoje, sabemos que manga e leite podem ser combinados sem risco. Sorvetes, vitaminas e sobremesas reúnem os dois ingredientes com sabor e frescor. Ainda assim, o mito resiste, lembrando-nos de como as tradições e narrativas do passado moldam o presente.

O medo de que manga com leite faz mal não tem base científica, mas sim raízes históricas no Brasil Colonial, ligadas à escravidão e ao controle social.

Prof. Ricardo Assis