Admiro as pessoas
que trabalham nos rincões brasileiros e que fazem desse viver uma grande
aventura humanitária. Erik L. Jennings Simões é uma dessas pessoas, um
neurocirurgião comprometido com a vida dos habitantes da área de
influência de Santarém, no oeste do Pará, especialmente com o povo Zo’é,
etnia de recente contato, que vive na floresta ainda em situação de
isolamento.
O dr. Erik escreveu
um livro, “Paradô” (ICBS, 2015), com crônicas reflexivas por meio das
quais procura, antes de tudo, entender a si mesmo pelo relato do que
faz. Paradô é o nome dado pelos Zo’é às reuniões que realizam para
resolver os conflitos internos da tribo. Durante essas conversas eles
contextualizam a situação contando histórias e produzindo argumentos de
conciliação.
Erik Jennings conta
de cenas impactantes como na noite em que se deslocou em um pequeno
avião para socorrer uma menina que havia sido atropelada por uma moto na
cidade de Oriximiná. Como a pista de pouso da pequena cidade não
dispunha de iluminação, os moradores que tinham carro se juntaram com os
faróis acesos para dar visibilidade de pouso e decolagem, permitindo
que ele salvasse a criança acidentada.
Em outra passagem o
autor descreve o cuidado que tem com a cultura regional. Diz que certa
vez recebeu uma paciente com forte dor de cabeça e com um histórico de
ver pessoas que já morreram a observarem os vivos. A moça tinha sido
encaminhada por uma curandeira, e isso, para um médico, é motivo de
muito respeito. Ele tratou da dor de cabeça e reencaminhou a paciente
para a Mãe Helena com a seguinte requisição: “Solicitando seus cuidados e
acompanhamento no que se refere a maior sensibilidade desta jovem em
ver os mortos” (p.85).
Na oscilação entre
tristezas e satisfações do ato médico, Erik Jennings faz várias
incursões por temas em que somente oração e fé em Deus parecem desafiar a
morte fora dos recursos da medicina. Foi o caso de um policial que
chegou à sala de cirurgia com um tiro na cabeça e foi vencido pela
hemorragia. Ao informar à família, o chefe da equipe de plantão ouviu um
“agora só Deus, né?”, no que ele lamentou: “Nem Deus”. Mas enquanto a
papelada do óbito era preenchida o “morto” arregalou os olhos, em uma
reação inesperada.
O autor reflete que
“tensão e prazer fazem parte de algumas atividades humanas que, quando
realizadas com dedicação e entusiasmo, se tornam emocionantes e
altamente gratificantes” (p.45). Ele narra vários casos em que foi
surpreendido com expressões de gratidão, como o da manicure que revelou a
felicidade de estar cuidando das mãos que haviam cuidado dela anos
atrás ou da família ribeirinha que por motivo semelhante arriscou tudo
para salvá-lo de um afogamento no rio Tapajós.
Mas “Paradô” tem
uma história mais especial do que as outras. É a história de uma criança
que com quatro anos de idade sofre várias queimaduras provocadas por
uma panela de água quente e sobrevive por força da dedicação de um
médico chamado Waldemar Penna. Por conta disso, esse menino resolve ser
médico. Forma-se em São Paulo e volta para exercer a profissão em
Santarém, onde tem a satisfação de acompanhar os últimos dias do velho
médico que o salvou das queimaduras. Seu nome: Dr. Erik L. Jennings
Simões.
FONTE: O POVO

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